segunda-feira, 24 de setembro de 2007

ÓH Glória de ter a Glória como mote


Não é algo comum ver uma estrela nacional, como a atriz Glória Pires, ser tão transparente numa entrevista como a c
oncedida a um programa de TV a Cabo, no último domingo, 09 de setembro. Sem pestanejar disse que a festa do Oscar, apesar do glamour, “é uma chatice”. Contou, num clima pitoresco, que ela e a Patrícia Pilar (outra estrela, não?) ficaram apertadas segurando para ir ao banheiro, na ocasião, porque tinham que optar entre o risco ou não de perder o momento da premiação – na programação não constava a hora da entrega das estatuetas. Pois é preciso, no mínimo, um certo desprendimento do que entendemos por vaidade pessoal para, com elegância peculiar, revelar algo comum “somente” aos pobres mortais, sem, no entanto, vulgarizar a notícia.
Foi assim que me vi presa a tela para acompanhar uma conversa que, na verdade, já peguei em curso – de canal em canal parei neste. A estrela (quero dizer a Glória, a Glorinha para os íntimos, talvez) desfilava objetividade nas respostas. E não se furtou, sem nem ter sido perguntada diretamente, a dizer que já usou, sim, botox, e “que o importante é encontrar uma mão leve”. Alguém pode até perguntar: sim, mas e daí? Não haverá um tema mais interessante para falar do que o que deixou de revelar ou não uma atriz de tv, gloriosa, é verdade, maaasssss....
Mas não é dela exatamente que me proponho a discernir por aqui. E, sim, da sua postura que nem de longe parece travestida da pose – algo tão comum em tempos do consumo pelo consumo - da vaidade e orgulho besta de se sentir grande para esbanjar e não para crescer junto, dividir, somar. Por essas que me atenho à glória de sortudamente numa tarde de domingo parar e assistir a algo que acrescente à reflexão necessária do cotidiano assim de forma tão leve.
Do contrário, penso que resta à maioria da população protagonizar ou testemunhar a guerra dos índices de audiência em torno da miséria humana nos programas de auditório – os quais me dou o direito de não citar nomes – com joguinhos e competições onde o mais pobre, o mais miserável dos participantes, é quem faz a diferença. Ou seja, o “personagem mais endividado, miserável, mais coitadinho, leva a emoção ao público, que por sua vez, comovido, prende-se a tela para ver no que vai dar e, neste momento, garante a maior audiência para o melhor (ou será o pior?) canal de tv. E a gente (opa, os donos dos programas) se “livram” da culpa de explorar esses simples mortais ao efetivar, com a colaboração dos patrocinadores, as doações materiais ao pobre do vencedor. E assim, ver-se passar o domingo na TV.
Reconheço e respeito quem goste e até ache que aí daqueles pobres coitados, os contemplados nos respectivos programas, se não tivessem essa oportunidade. Mas oportunidade é não precisar participar de atividades assim. Não necessitar se expor ao papel do pedinte e receber a esmola que pode ser chique na TV, mas é uma esmola, quiçá, como toda ela, uma grande humilhação. E a dignidade humana fica como? Não se trata de pousar acima do bem e do mal, mas essa realidade não pode passar desapercebida ao se refletir sobre o rotineiro conteúdo do “lazer” brasileiro, na televisão. Quem sabe possamos esperar a TV Pública do Governo Lula preencher o vazio dos momentos de glória às camadas carentes – mote da nossa insurreição por aqui. Tenhamos fé, coloquemos a mão na massa, e vamos esperar. Afinal, é ela (a esperança) sempre a última que morre não? (Publicado no Jornal de Idéias/Editora Comunigraf/Edição de 16 de setembro de 2007)

Um comentário:

Unknown disse...

OI adri,

adoro os seus comentários/crônicas, pois assim os classifico, crônicas do cotidiano político e social....sempre tão realista nos levando a uma boa reflexão. parabéns pela volta do blog...estava fazendo falta...bjs lou